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sábado, 20 de maio de 2017

O velho o sonho e a Serra

(lembranças são janelas abertas ao passado!...)


Quando...vez por outra, A brincar
O sol se esconde
Nas embaçadas tardes de outono...
O velho busca se aliviar do calor
Na fresca e sossegada varanda de sua vivenda.
Então se escancha em sua desgastada
Espreguiçadeira e... Por horas a fio:
- Se balança e cochila
- Cochila e se balança...sem parar,
Perdido em gratas lembranças que tempo
Não fez a mínima questão de as apagar.

Com olhar perdido...no tempo,
A degustar lembranças alvoroçadas
Em sua excelente memória...
Ressabiado... Por nada deste mundo,
O velho nunca as revela a ninguém.
Só as sussurra consigo mesmo
Muito abismado de surpresa:

- Ah! Lembranças... Lembranças...
Cada uma mais saborosa que a outra.
- Mas enfim, será pra onde elas me levam
Vez que sempre me arrastam...ao pretérito,
Após cochilos e mais cochilos?
- Ah! Nas asas delas alço voos de juventude
E lá de cima... Vislumbro:
- Serras de sonhos... Montes de utopias...
E belas Campinas de juvenis delírios.

Então, num sussurro quase angelical...
O velho a si mesmo responde:

-Ora, meu velho!
Elas seguem...lá no passado,
As tuas jovens pegadas...
Que certamente...sem hesitarem,
Levar-te-ão determinadas
Ao topo da exuberante
“Serra da Piedade”...
- Onde repousaste...um dia,
Tranquilamente... A cabeça,
No acolhedor colo materno
Da “Padroeira de Minas”...
-Onde contemplaste... Ao amanhecer,
Logo após a Oração das Matinas...
O avançar ligeiro da sombra da Serra,
Que altiva se derramava
Sobre a Belo Horizonte...
A linda capital das Minas!

Então o velho saudoso balbucia ainda:

- Oh! Quão formosa és tú, Ó amada Serra!
Serra...onde vivi a doce saga
De repensar...mais uma vez ainda,
O meu fantasioso sonho juvenil
Em fazer-me um recatado mongezinho
Que nem sequer seria percebido...
Aos olhos malvados desse mundo banal.
Entretanto... Chutei o balde
Chutei a bola...na trave,
E tomei outro rumo...ora!

De repente...
Uma voz estridente ecoa
Lá da cozinha...
E trinca o encantamento
Do sublime devaneio:

- Véio! Ô veio!
- Vem logo tomá o café!

Então...aborrecidíssimo,
O ancião sonhador esbraveja:

Ara! Não quero ser perturbado agora!
Espera só mais um pouquinho!...
Só levantar-me-ei dessa espreguiçadeira
Depois de degustar...uma a uma,
Todas as lembranças
De minha saudosa juventude
Que o tempo levou pra sempre
E não voltará... Jamais,
Nem que a vaca tussa!

Montes Claros, 26-04-2012
RELMendes

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